3/12/2007


ABORTO, SIM OU NÃO: A ESCOLHA É DE CADA UMA
É muito grande o número de mulheres que fazem aborto no Brasil. Abortos clandestinos, feitos em clinicas clandestinas, sem as mínimas condições de higiene, sem recursos básicos para uma eventual complicação. Abortos feitos por profissionais duvidosos: dentistas, enfermeiros e até médicos – só que incompetentes. Sem falar nas parteiras de fundo de quintal, com seus instrumentais sem esterilização, enferrujados, que causam até tétano. O risco para a paciente é imenso, de infecções a mortes por hemorragias (causadas por perfurações uterinas e de intestinos) e por complicações com anestésicos. Há clinicas mais sofisticadas, com equipamentos de ponta e médicos gabaritados, para atender a elite. Cobram de R$3.000 a R$5.000 por aborto com sucção. Não pagam impostos, ficam cada vez mais ricos. Há também métodos mais baratos para a população de baixa renda, como a colocação de pastilhas de formol dentro do útero, a colocação de sonda e o famoso Citotec, medicamento que causa o aborto dando a impressão que ele foi espontâneo (mas é necessária uma curetagem para retirada de restos placentários e para conter a hemorragia e evitar infecções). Em 1977, em um grande hospital de SP, presenciei jovens de classe alta, da sociedade, fazendo cirurgia para reconstrução do hímen. Apesar de terem feito abortos, de terem feito sexo à vontade, quando resolviam se casar com alguém conservador, que desejava uma noiva virgem, elas tinham que parecer virgens inocentes. A mãe acompanhava apreensiva na sala de espera do CC, com óculos escuros para evitar ser reconhecida. Não há imoralidade em fazer o aborto, a imoralidade está nessas pessoas que se dizem contra o aborto, que são contra a legalização mesmo tendo feito o que fizeram. Atendi várias mulheres vítimas de abortos clandestinos com sérias complicações de saúde: tétano, lesões cerebrais causadas por doses erradas de anestésicos, complicações cardiorrespiratórias, hemorragias severas e infecções graves que levaram à perda do útero e anexos. Cada mulher sabe o que é melhor para ela, cada mulher tem o direito de escolher o melhor momento para ter um filho, cada mulher tem o direito de escolher levar ou não adiante uma gravidez. Por entender o direito da mulher ao seu corpo, por respeitar sua vontade, sua disponibilidade familiar e financeira de levar ou não adiante uma gravidez, por ter conhecimento das conseqüências de abortos clandestinos, sou a favor da legalização do aborto. Sou a favor de acabar com essas clínicas clandestinas, de acabar com o enriquecimento ilícito de alguns médicos, de acabar com o risco à saúde da mulher. A Igreja condena o aborto, mas não vejo a Igreja ajudando mulheres grávidas desamparadas, não vejo a Igreja fornecendo maternidade, fraldas, roupas, médicos e medicamentos para essas crianças. A Igreja está mais para "quem pariu Mateus que o embale" Se o aborto fosse legal e gratuito não veríamos tantas crianças abandonadas nas ruas, jogadas no lixo. Quem não vai cuidar, não vai dar total assistência desde o nascimento, não vai educar, não tem que dar palpite na escolha da mulher, e muito menos tem o direito de condenar o Estado por legalizar o aborto.
Jussara Seixas