São cinco estudantes universitários, de classe média alta, moradores do RJ. Jovens e fortes, idade entre 19 e 22 anos, espancaram uma empregada doméstica e roubaram seus pertences quando ela esperava um ônibus para ir a uma consulta médica. A guia de encaminhamento médico também foi roubada, estava na bolsa da vítima, Sirlei Dias. Espancaram e roubaram. A justificativa: pensaram que ela era uma prostituta. E se fosse uma prostituta? É permitido espancar prostitutas? Há algum tipo de mérito em agredir prostitutas? Se um jovem desses cinco estivesse drogado, bêbado, tentasse praticar tal barbárie e fosse contido ou desestimulado pelos demais ... Mas não, os cinco concordaram, os cinco espancaram, os cinco praticaram a barbárie, os cinco acharam natural agredir uma cidadã pobre que esperava um ônibus nenhum fez nada para evitar. A vítima, uma trabalhadora doméstica, poderia ser uma estudante pobre, uma dona de casa pobre, uma mãe de família pobre, uma prostituta pobre: foi espancada por ser pobre? Que ameaça, que risco ela oferecia? Nenhum, apenas a existência de pobres não é tolerada por jovens ricos. Os cinco jovens de classe média alta do RJ sofrem de uma moléstia, em geral hereditária, sofrem do câncer da humanidade, sofrem de preconceito e a intolerância. Espancaram porque ela é pobre, porque não faz parte da elite da classe média alta do RJ, porque ela não estava em um belo carro, porque estava esperando um ônibus. Espancam porque têm certeza que a família irá contratar bons advogados, de que cumprir pena é uma utopia para a elite da classe média alta. Essas pessoas da classe média alta se autodenominam "gente de bem", devem ter participado das manifestações no Rio pela paz, pela vida, contra a violência, quando alguém da classe média ou alta é a vitima. Para esse tipo de gente, cadeia é para negros, pobres, prostitutas. Para esse tipo de gente, a violência praticada contra negros, pobres, prostitutas, não é crime, faz parte da limpeza étnica defendida por parte da elite. combina com a atitude de José Serra, o eterno candidato das elites, ao construir rampas antimendigos nas vias nobres de São Paulo. Cadeia, nem pensar. Assisti à declaração do pai de um desses criminosos, afirmando que o filho não deveria ir para a cadeia, não deveria ir para o banco dos réus, deveria voltar para os bancos da universidade. Que ele achava um absurdo o filho ficar preso na Polinter (afinal, só agrediu uma simples empregada doméstica, um ser humano que ele deve considerar bastante inferior). Assim agem os filhos das elites abastadas: colocam fogo em mendigos e índios dormindo nas ruas, matam mendigos a pauladas, estupram meninas pobres que estão nos semáforos pedindo esmola, atropelam de propósito pessoas pobres, espancam pessoas pobres nos pontos de ônibus. Eles têm a certeza da impunidade que o dinheiro comprará, têm certeza de que as boas ligações de suas famílias com políticos, juízes, advogados e delegados inescrupulosos vão sempre dar um jeitinho.
Jussara Seixas